Em Rapsódia! O público entra no porão de uma fábrica com a cabeça cheia de curiosidade e descobre que tudo pode ser real ou apenas uma rapsódia insana
- Rota Cultural e Festival
- 6 de ago.
- 2 min de leitura
Uma comédia musical ousada, insana e deliciosamente fora do comum
"Vai dar merda."

É com essa frase que a plateia se entrega ao universo imprevisível de Rapsódia! O Musical, uma das montagens mais originais e provocativas que São Paulo já recebeu nos últimos tempos. Em cartaz na Sala Experimental do Teatro B32, o espetáculo é um delírio cênico que mistura humor ácido, suspense, crítica social e uma trilha sonora de tirar o fôlego.
A trama acompanha Pátrio, um jovem idealista que aceita um emprego na fábrica do primo e se muda para a misteriosa cidade de Rapsódia. O que parecia ser um novo começo vira uma espiral de revelações bizarras, personagens excêntricos e segredos escondidos no porão. Em meio a tudo isso, a comédia surge como alívio, catarse e arma. E quando você acha que entendeu a história, alguém solta um "não entendeu? Faz parte", e você percebe que a graça está justamente no absurdo.
O texto e as letras de Mau Alves são brilhantemente caóticos. Ele acerta em cheio ao brincar com clichês do teatro musical e da cultura pop, ao mesmo tempo em que entrega diálogos afiados e piadas que beiram o politicamente incorreto. O elenco mergulha nesse universo sem medo, com destaque para Felipe Assis Brasil no papel de Pátrio, Conrado Helt com um timing cômico impecável, e Julia Morganti que entrega presença e potência vocal em todas as cenas.

A trilha sonora é um dos grandes trunfos do espetáculo. As músicas transitam entre o grotesco e o épico, o dramático e o debochado, sempre surpreendendo. Uma das canções mais marcantes dispara com ironia: “A vida é uma empresa, e você é o estagiário”, arrancando aplausos e risos nervosos da plateia. Cada número musical é encenado com intensidade e personalidade, como se o palco fosse explodir a qualquer momento.
Visualmente, Rapsódia é um show à parte. A direção de arte cria uma estética excêntrica e bem resolvida, onde luzes, figurinos e cenografia constroem um universo particular, quase onírico. É como entrar em um pesadelo pop onde tudo faz sentido e ao mesmo tempo não faz. E esse é o ponto.
Apesar de toda a loucura, o espetáculo carrega reflexões importantes sobre poder, alienação, relações de trabalho e identidade. Mas faz isso sem panfletar, deixando espaço para a dúvida, o riso e o desconforto. É teatro que desafia, que provoca, que não se explica por completo, e que por isso mesmo fica na cabeça por dias.
Rapsódia! O Musical é mais do que um espetáculo. É uma experiência teatral intensa, divertida e surpreendente. Uma produção que quebra padrões, abraça o risco e entrega algo verdadeiramente novo à cena paulistana. Para quem está cansado do mais do mesmo, essa é uma peça que merece ser vista, revista e discutida.
Vai ver. Vai rir. Vai sair com uma música na cabeça e a sensação de que alguma coisa muito louca acabou de acontecer. E, sinceramente, que delícia que é quando o teatro nos tira do eixo assim.
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Por: Nicolas Veras - 06/08/2025
Rota Cultural e Festival





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